quinta-feira, 11 de maio de 2017

"AFTER LAUGHTER" (PARAMORE) - QUEM É PARAMORE?




Nos anos 2005-2009 o movimento mainstream do emo explodiu dentro do cenário da música norte-americana  trazendo à tona bandas de som pesado, na maioria das vezes pop-punk com letras de alto teor emocional. Dentre essas bandas, uma se destacou por ter como vocalista uma garota jovem de cabelos coloridos. Rapidamente o que poderia ser apenas uma curiosidade provocada pelo machismo no meio musical, principalmente no segmento do pop-punk, tornou-se um grande sucesso comercial. Começava o sucesso da Paramore. 
Dentre altos e baixos, discussões internas, separações e hits emplacados, o grupo lançou quatro álbuns de sucesso, dentre os quais, o Paramore (2013) conseguiu alcançar o êxito de ganhar um Grammy de melhor música de rock por "Ain't fun" e já mostrava musicalmente um parcial distanciamento do som que fez da banda conhecida. 

Após mais alguns desentendimentos e um quase rompimento total da banda devido a uma crise interna causada pela saída nada amigável do baixista da banda Jeremy Davis, Paramore ressurge das cinzas com uma nova formação, agora com a volta do Zac Farro, membro e co-fundador da banda, trazendo um novo álbum lançado mundialmente hoje, o "After Laughter".

Mesmo para quem escutou o "Paramore" (2013), "After Laughter" causa estranhamento. Enquanto que no álbum auto-intitulado percebemos um momento de transição da banda, momento este em que o pop é mais evidenciado, é em "After Laughter" que a banda abraça o universo pop de vez, deixando de forma quase abrupta o pop-punk que um dia os caracterizou. 

"After Laughter" é, antes de tudo, um álbum que mora nos contrastes. A começar pelo título, que em tradução livre seria "Depois da risada", o álbum se propõe a questionar sobre o que acontece em nosso rosto quando paramos de rir. O que acontece quando nos damos conta que os tempos bons já se foram?



Enquanto que sonoramente há uma aparente alegria causada pelos elementos de funk, pop e indie 80's na maioria das músicas, as letras evidenciam tristeza, ceticismo e desesperança quanto aos relacionamentos e o mundo, influenciados diretamente da depressão que Hayley Williams, vocalista e principal compositora, luta contra. 

"Hard times" abre o disco alegremente com uma sonoridade funk-pop 80's, apesar de contar um aviso de toda a lírica do disco: "crescemos e estamos diante de obstáculos difíceis, o que fazer a não ser aceitar a dor e vivê-la?".
"Rose colored-boy" talvez seja uma das que mais incomodaram as pessoas pela total desconexão sonora com o legado da banda, porque o que ouvimos logo nos segundos iniciais soa quase como alguma canção da Cindy Lauper, o que, particularmente eu adorei (apesar de relutar no começo, admito.). A letra aborda alguém cansado de ser otimista, mesmo que admitindo que gostaria muito de voltar a acreditar num mundo bom. 
"Told you so" seguindo a linha musical das demais: linhas de baixo de funk em evidência e pequenos arranjos de guitarras com reverb, temos a interpretação nas partes altas que podem causar saudades das explosões de raiva em hits como "Ignorance", por exemplo.
"Forgiveness" é uma das grandes canções do disco, na minha opinião. Abordando a dificuldade de perdoar e tendo consciência dessa dificuldade (provavelmente inspirado na confusão que causou a saída de Jeremy, que era um dos melhores amigos de Williams, inclusive), a canção traz uma espécie de balada pop com elementos que causam balanceamento por sintetizadores e guitarras com efeitos reverb (que são características de bandas como The Smiths e The Cure). 
Logo a seguir vem outra grande canção do disco, inclusive preferida de muita gente, "Fake Happy". A canção inicia dando impressão de ser uma balada lenta, mas volta ao pop-rock e pop oitocentista, com elementos (principalmente no baixo) de funk-pop. A letra aborda a facilidade de fingir estar feliz e sorrir para manter a imagem. 
"26" é uma das minhas preferidas por diversas razões: por quebrar com a linha sonora do álbum; por ser uma balada com violões, o que pode lembrar a linda "Misguided Ghosts" do álbum "Brand New Eyes"; por conter arranjos de cordas e lira; por último, por possuir uma letra incrível, abordando sobre o doloroso processo de crescer e se deparar com o fato de que a realidade não é tão boa quanto parece. 

Logo após , temos a incrível"Pool", composição de Williams, York e Zac. O ar juvenil, alegre e que pode soar melodicamente com músicas pop anos 90 ou com o próprio Paramore no começo da carreira, traz uma letra que fala sobre o medo de mergulhar em relacionamentos depois de tantas decepções. 

Enquanto que em Forgiveness há um relato de dificuldade em perdoar, em "Grudges", composição de Williams, York e Farro, os muros são quebrados, o ar passa ser menos denso por mostrar uma reconciliação entre amigos que se perdoaram e querem retomar de onde pararam, apesar de reconhecerem que agora tem de conviver com o fato de que não são mais os mesmos (talvez uma referência à reconciliação ocorrida entre Zac, Taylor e Hayley,):
 "Cause we can't keep holding on to grudges" (porque não se pode continuar guardando rancores).
A faixa é iniciada com sintetizadores e depois abre para um indie delicioso que pode soar como alguma da Phoenix ou com o retrô da Taking Heads.

"Caught in the middle" é uma canção honesta sobre não se enxergar tão jovem, mas ter dificuldades de se encontrar no que chamam de vida adulta. Um pop com bons arranjos de guitarra e contrabaixo, apesar de não ter chamado tanto minha atenção. 

"Idle Worship" tem toques de indie-pop com uma interpretação "raivosa" de Williams (característica que a marcou), com certeza vai ser uma das melhores executadas ao vivo por sua energia. Soa como uma denúncia aos que se decepcionam por esperar de nós algo além do que somos, como a própria letra diz: "Oh, it's  such a long and awful lonely fall/ down from this pedestal that you keep putting me on/What if I fall on my face?/What if I make a mistake?" (Oh, é uma longa e terrível queda solitária/ daqui desse pedestal que você continua me colocando/ E se eu cair de cara?/ E se eu cometer um erro?). 

"No Friend" 
com certeza é a canção mais "difícil" do álbum, é completamente cantada pelo Aaron Weiss, vocalista da banda de rock experimental MewithoutYou e carrega muitas características dessa banda. Apesar de instrumentalmente ser incrível, trazer um aspecto sombrio interessante e possuir uma letra quase apocalíptica parecida com "Idle worship" (pelo que consegui captar), com certeza é a uma das poucas que não gostei por não sentir identificação pessoal e por achar incoerente quanto ao álbum.

Finalizando com chave de ouro, temos uma das melhores músicas do álbum, se não a melhor: "Tell me How". A canção é uma balada triste que continua com a carga emotiva lírica do disco sobre a dificuldade de perdoar, mesmo amando, a vontade de reconstruir pontes demolidas e a consciência do quanto que isso é difícil quando os corações estão cansados de recomeçar. É, definitivamente, uma canção dolorosa. (para quem entende a história da banda, é mais uma canção pessoal que provavelmente fala sobre os sentimentos da vocalista diante do rompimento com seu ex-melhor amigo Jeremy Davis).

"After Laughter" é um álbum que provavelmente trará muitas opiniões divididas quanto à coerência e identidade da Paramore diante de tantas mudanças musicais, internas e pessoais. Talvez a grande proposta seja exatamente a de, honestamente, levantar a questão sobre quem eles são enquanto músicos e fazer dos ouvintes co-participantes dessa redescoberta. 
Ainda dentro do álbum, pessoalmente senti falta de mais peso de guitarras, de mais progressão em algumas músicas e um certo desconforto da própria Hayley Williams diante de uma proposta musical diferente da que sua voz parece ser feita para cantar. É contraditório termos letras tão pesadas sobre o medo de envelhecer, ceticismo quanto às relações humanas, conformidade com a dor ao mesmo tempo em que também temos melodias alegres e arranjos dançantes, mas talvez, ao mesmo tempo o título do álbum seja uma tentativa de resposta a essas questões: o que vem depois do sorriso? Como explicar momentos tão próximos e ao mesmo tão distantes como o sorriso e a nossa expressão "after laufhter" em que percebemos que o tempo de sorrir acabou? 
Sim, "After laughter" vai dividir opiniões, vai causar desconforto nos que ouvem Paramore desde os primórdios, vai ser confundido como uma mistura de referências retrôs, mas também poderá ser visto como uma tentativa ousada e corajosa de se assumir como uma banda de pessoas que ainda estão buscando suas identidades e dentro de todo esse processo, nos convidam para crescermos juntamente com eles, e quando pensamos dessa forma, desde 2005, nos vemos acompanhando essa jornada. 


Destaques: "26", "Fake Happy", "Pool", "Grudges" e "Tell me How".  


Nota: 4/5 

Ouça você mesmo e tire suas conclusões:


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