segunda-feira, 5 de março de 2018

3 RAZÕES PARA VOCÊ ASSISTIR A ESSES 2 ESNOBADOS PELO OSCAR (PARTE 1)



No dia 4 de Março foi ao ar a 90º Premiação do Oscar , conhecida por homenagear as melhores produções cinematográficas do ano corrente. 
Acontece que, mesmo com muitas vitórias dignas, discursos poderosos e apresentações musicais esplêndidas, sempre há aquele gostinho amargo na boca não apenas pelos filmes que torcemos e não ganharam (como por exemplo no fato de que eu queria que Daniel Kaluuya ganhasse como melhor ator pela performance de Corra! ), mas também por aquelas produções que nem sequer tiveram relevância ou foram indicadas ao prêmio. (apenas Willem Dafoe foi indicado como Coadjuvante por "The Florida Project").
E é aqui que meu texto, com mais um na seção do "3 razões para..." ganha sentido: quais foram os filmes que assisti e senti falta na premiação de domingo? 
Vamos a eles!

obs.: esta é a primeira parte desse texto, visto que há outros filmes a serem indicados:

A Ghost Story (2017 - David Lowery) 



O que você faria se após a morte pudesse ver todos aqueles que você ama seguindo em frente e pouco a pouco esquecendo da sua existência? Dentro dessa dolorosa perspectiva, A Ghost Story, um drama dirigido e roteirizado por David Lowery, constrói sua narrativa tendo como protagonista um rapaz (Casey Affleck. Podiam ter escolhido outro ator em vez desse embuste? Podiam, mas fazer o quê.) apaixonado pela companheira com quem constrói um sólido relacionamento (Rooney Mara) e que após um incidente trágico que o leva a morte, tem como sina assistir a vida se desenrolar mesmo com sua ausência. 

Primeiro motivo para ver: um fantasma com lençol branco que não é nem cômico e nem assustador 


 É de uma originalidade e simplicidade sem tamanho que a escolha para o ser etéreo em que se transformou o personagem principa seja  uma exploração do universo da consciência coletiva a respeito de fantasmas: lençóis brancos com buracos indicando os olhos. A parte mais original ainda é que essa imagem não evoca o terror e nem o seu completo oposto, comédia; na verdade a imagem icônica do ser de branco remete à poderosa mensagem do filme: somos todos tão esquecíveis quanto um lençol com buracos como olhos. 

Segundo motivo para assistir: uma cena peculiar

Há uma cena (LONGA!), que obviamente não irei revelar, mas que é uma das melhores partes do filme e ironicamente é considerada também uma das mais boring: uma pessoa comendo uma torta. Não entendeu? Assista e veja o que isso pode ter a ver com uma atuação humana de Rooney Mara e o que significa estar em luto e perder o amor de sua vida. 

Terceiro motivo para assistir: crise existencial na certa

Obviamente todos nós fugimos de crises existenciais justamente porque essas nos causam dores e nos fazem pensar em situações e condições nossas que não são confortáveis de admitir. Mas se você é como eu, com certeza terá a curiosidade de refletir sobre os temas mesmo que ao fim lhe tragam dores por lhes lembrar de sua efemeridade. Está aí o cerne da obra de Lowery: somos todos efêmeros e por esta razão, esquecíveis. Não há nada que façamos, por mais grandioso que seja que impeça nossa mortalidade e o fato de que somos minúsculos e provavelmente não faremos assim tanta diferença no mundo. Doeu? Aposto que quando você for assistir essa obra, essa dor valerá a pena já que sofrer tem lá suas vantagens, principalmente quando se assiste a algo tão belo. 




The Florida Project (2017 - Sean Baker)


A Disneylandia é, com certeza, um dos lugares mais mágicos do mundo. É lá que nossas fantasias infantis são perpetuadas e, de alguma nos constroem. É lá que a vida é em cor de rosa e o conto de fadas fatalmente termina em "felizes para sempre".
Mas é também na cidade de Orlando (onde fica a Disneylândia) que o lado não tão doce da vida é experimentado todos os dias em um motel decadente. Mesmo assim, a infância e a doçura de ser criança parecem ser o motor que dá vigor a toda a amargura da vida adulta. É assim que Moonee, uma garotinha de 6 anos, juntamente com seus amigos, se adaptam às condições e vivem aventuras de infância que fazem com que o mundo da Disney pra elas seja real, apesar de mães irresponsáveis e péssimos exemplos nesse drama de Sean Baker (que já falei aqui nas minhas impressões do incrível Starlet).

Primeiro motivo para ver: a infância como nossa Disney

  Até hoje tenho em minha memória afetiva vários acontecimentos de infância que apesar de terem sido completamente banais foram vividos por mim como épicas aventuras dignas de grandes filmes da Disney. E não será assim toda a infância? Dentro dessa perspectiva de afeto e memória, a infância é docemente tratada nessa obra como essa lente de pureza que nos faz ver a vida com outros olhos, apesar de todos os obstáculos.

Segundo motivo para ver: Brooklynn Prince(!!!)

 Essa garotinha pode ser apenas um pedacinho de gente, mas tem todas as chances do mundo de se tornar uma das grandes atrizess da geração. Falo isso porque a performance da atriz Brooklynn Prince é uma das mais naturais, palpáveis e críveis que já vi. Por vários momentos pensamos estar assistindo a um documentário (isso talvez seja o estilo de Sean Baker como diretor) e por isso os personagens são construídos de forma tão verossímeis e Moonee, por vezes se torna real pra nós por causa do talento da pequena.


Terceiro motivo para ver: um ESPETÁCULO visual




O trabalho que Alex Zabe faz com a fotografia aqui é simplesmente SENSACIONAL. Apesar de ser ambientado em um motel decadente com pobreza e ruínas, o aspecto visual nos faz ver beleza até nas partes declaradamente "feias", evocando a Disney que é a infância pelos tons de rosa e azul, claramente o mundo visto pela perspectiva das crianças.












Por essas e outras, apesar de não ser crítica de cinema, entendo que filmes nos contam histórias e não apenas nos contam, mas de alguma forma nos tocam. Isso aconteceu com essas duas obras, tão peculiares entre si, mas que me fizeram refletir, chorar ou quem sabe apenas dar aquele sorrisinho de satisfação por estar contemplando algo realmente bonito. 
E quem liga pra Oscar quando filmes se tornam queridos nossos?  

E quanto a você? Quais são seus esnobados do Oscar preferidos? 
Diz pra mim nos comentários.

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