Um
dos motivos de escrever neste blog é que a minha relação com música se faz de
forma muito visceral e sinestésica; por vezes uma canção me traz um acalento na
alma de forma tão profunda que a sensação se assemelha muito com pedaços de
dias bonitos que já vivi, com fagulhas de cheiros bons que já senti, com sons
familiares que me fazem lembrar de bons sorrisos sinceros. É exatamente dessa
forma sinestésica que eu me relaciono com The
Oh Hellos, uma banda de
folk/folk-rock que mais se parece com um coletivo artístico de bons amigos que
carregam em suas músicas um peso quase espiritual que nos faz transcender.
Encabeçado pelos irmãos Maggie Heath e Tyler Heath juntamente com um grande
número de (geniais!) instrumentistas que adicionam em sua musicalidade duas
baterias, um baixo elétrico, acordeon, violinos, banjos, bandolim, guitarras
distorcidas e violões e com tudo isso fazem um som completamente original.
Essas
sensações experimentadas que citei, na maioria das bandas, ocorrem, geralmente,
nas produções dos álbuns em estúdio, porque é ali o veículo onde o público
consome a identidade, fruto e trabalho do artista. Com The Oh Hellos é bem diferente, o som ao vivo da
banda é quase uma epifania musical, é ali, no palco, com os ruídos de
amplificadores e microfones que vemos toda a trupe agindo em seu mais
significativo fruto: explosão apaixonada. (isso pode ser visto, por exemplo,
ao vivo nesse show no Front Row Boston clique aqui para assistir!).
Acredito
que para um artista merecer o título que carrega, precisa, essencialmente de
dois ingredientes principais na sua arte: beleza e verdade. Não há como Arte
ostentar inicial maiúscula sem a beleza - sim, um conceito relativo, mas que
tem pontos em comum a todos que apreciam - e também não há como essa beleza ser
transmitida sem o princípio da verdade ou da autenticidade: mais do que viver o
que canta, cantar o que já vive, como diz o Tiago Arrais em suas entrevistas: "a vida precede a
música". E está aí neste
princípio duplo de beleza e verdade que as produções da banda texana de folk se
sustenta, em minha opinião.
Os
trabalhos em estúdio do grupo não são inferiores ao concertos ao vivo, e
acredito que não exista essa dicotomia para The
Oh Hellos, sua produção em
álbuns é, na verdade, reflexo do que acontece no palco: há paixão, vida e
explosão em cada faixa dos discos.A vida existe antes da música e reflete nela.
Tive o prazer de ouvir o primeiro disco, o recente álbum Dear Wormwood (2015) e algumas
músicas do EP de natal, mas acredito que não há fruto mais bonito da banda até
agora do que o esplendoroso Through
the deep dark valley (2013)
que terei oportunidade de escrever futuramente, mas absolutamente todos
carregam esses princípios que defendo para apreciar alguma obra
artística.
Um
dia ao conversar com uma prima minha com quem compartilho essas explosões
sinestésicas em música descrevi essa banda com essa analogia que adaptei para
este espaço:
"É
fantástico! É como se eu estivesse me acordando numa floresta fria com raios de
sol me aquecendo levemente enquanto inspiro um cheiro de manhã depois de uma
longa noite de chuva".
Cheiro
de manhã sempre me leva esperança porque é o primeiro sinal de que a noite
passou. E talvez seja essa sensação que me faz ser tão apaixonada por The Oh Hellos: a esperança vem pela manhã.