Menestrel (2014) - foto divulgação. |
Recentemente escrevi sobre a estranha e fantástica sensação de pertencimento a um povo, a um pedaço de chão e o quanto que isso nos constrói e nos modela como pessoas (aqui!). Ainda dentro dessa perspectiva regionalista, trago aqui uma obra que é uma daquelas coisas que a gente fecha os olhos pra assimilar toda a profundidade e beleza em cada detalhe, temeroso de perder a grandiosidade do que se está desfrutando.
Numa genial junção entre o erudito e o popular - conceitos controversos no campo da história da arte - Roberto Diamanso, traz o seu excelente segundo trabalho: "Menestrel" (2014) com onze músicas que vão de arranjos elaboradíssimos de piano e rabeca à baiões autênticos e traços da cantoria popular do Nordeste brasileiro, podendo facilmente entrar em termos de qualidade aos grandes nomes da música brasileira.
Como estudante de Letras, tenho o grande privilégio de estudar sobre Cultura e Literatura popular nordestinas, o que me possibilita tentar conhecer profundamente o que já é corriqueiro por aqui em poesia, música e formas de expressões, principalmente nos sertões dos estados. O disco de Diamanso é um grande painel de tudo o que é vivo e bonito na nossa cultura, mas ainda traz mais novidades: as boas-novas do evangelho.
Com o título de "Menestrel", fazendo referência ao poeta europeu medieval, tal como o trovador, que em música contava grandes narrativas, Roberto Diamanso, alagoano, pastor, poeta e músico, se oferece, nesta obra, como o cAntador de histórias em plena praça pública; tendo como fio a fé no Deus que inspira toda poesia.
Somos convidados a entrar nesse grande universo de cantoria com a belíssima Coelet, que para mim já configura como a mais bonita do disco por seu teor poético de fazer menção ao capítulo 12 do livro de Eclesiastes enquanto mostra a fugacidade da vida, e o quanto ela é pequena se os olhos não estão fixados no Criador.
A segunda canção, Razão do Universo, traz os dedilhados de viola que muito lembram as canções de grandes nomes de cantadores como Elomar e Xangai, além da marcação belíssima da rabeca intercalando com arranjos de piano e o triângulo trazendo reminiscências do baião. Lindíssima em todos os sentidos, a letra desta canção põe como centro a figura de Cristo como o Rei de todos.
Faina, a terceira do disco, apresenta o homem comum que acorda com o galo, trabalha com o sol e come do fruto de seu suor com o sorriso de seus filhos, tendo como sonoridade o forró de rabeca, acordeon, zabumba e triângulo.
Menestrel, canção que traz o título do álbum, é a carta de manifesto, apresentando em um baião o propósito de toda a temática lírica: professar a fé em Cristo.
Trova nova, fazendo ponte entre as canções dos trovadores europeus e os cantadores regionais, traz uma embolada, modalidade da cantoria nordestina que apresenta o pandeiro e a voz como únicos instrumentos. A história contada na embolada narra a saga do homem comum na vida tendo como objetivo o Louvar a Deus (como Roberto comumente apresenta seu estilo musical).
Patativa, sexta canção, traz a viola de cantoria com a temática do drama da patativa diante do descaso com a natureza.
Pote de coaxar é a sétima faixa, mas que, ao contrário das anteriores, tem como foco a declamação de um poema com solos belíssimos de baixo acústico e piano clássico.
Com a temática do quanto somos tecidos para um relacionamento com quem nos tece, Um tecelão e um tear, nos presenteia com um baião estilizado, próprio e autêntico.
Logo após temos a canção Aquele que te guarda que, com o objetivo de ser o acalento para alma, traz versos que abordam o descanso em Deus, confiando que Ele cuidará de nós.
Já ao fim do disco, as duas últimas canções apresentam-se como gêmeas esteticamente, carregando a mesma introdução e os mesmos arranjos de rabeca, violinos, baixo acústico, piano clássico e violões, mas diferenciando tematicamente. Ao que parece, Sonho bom, tematicamente nos mostra o propósito de toda a criação, o relacionamento com Deus, as pessoas e a natureza antes da entrada do pecado. O sonho bom que um dia foi realidade.
Eu vivo sonhando, última canção do disco é uma grande conversa com a morte, a grande consequência do pecado, que assolou o relacionamento humano com Deus, com seus semelhantes e com a natureza, tendo como pano de fundo a esperança de que, apesar desta criação estar caída, ainda virá o dia em que tudo voltará a ser como era antes, tal qual um sonho bom.
Eu vivo sonhando, última canção do disco é uma grande conversa com a morte, a grande consequência do pecado, que assolou o relacionamento humano com Deus, com seus semelhantes e com a natureza, tendo como pano de fundo a esperança de que, apesar desta criação estar caída, ainda virá o dia em que tudo voltará a ser como era antes, tal qual um sonho bom.
Ao terminar de ouvir tudo o que Diamanso tem a nos dizer, encravado com os pés em seu chão de homem nordestino, imerso em uma cultura onde a poesia está no cotidiano e os versos são escadas para sonhos diante da mediocridade da vida, podemos, enfim, acordar do estado de total estupefação
perante a absurda obra que não está na língua de todos, mas inspira e encanta os ouvidos de quem para pra ouvir o menestrel cantar.
perante a absurda obra que não está na língua de todos, mas inspira e encanta os ouvidos de quem para pra ouvir o menestrel cantar.
Nota: 5/5
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