sábado, 23 de julho de 2016

THE OH HELLOS E O CHEIRO DE MANHÃ



Um dos motivos de escrever neste blog é que a minha relação com música se faz de forma muito visceral e sinestésica; por vezes uma canção me traz um acalento na alma de forma tão profunda que a sensação se assemelha muito com pedaços de dias bonitos que já vivi, com fagulhas de cheiros bons que já senti, com sons familiares que me fazem lembrar de bons sorrisos sinceros. É exatamente dessa forma sinestésica que eu me relaciono com The Oh Hellos, uma banda de folk/folk-rock que mais se parece com um coletivo artístico de bons amigos que carregam em suas músicas um peso quase espiritual que nos faz transcender. Encabeçado pelos irmãos Maggie Heath e Tyler Heath juntamente com um grande número de (geniais!) instrumentistas que adicionam em sua musicalidade duas baterias, um baixo elétrico, acordeon, violinos, banjos, bandolim, guitarras distorcidas e violões e com tudo isso fazem um som completamente original.
Essas sensações experimentadas que citei, na maioria das bandas, ocorrem, geralmente, nas produções dos álbuns em estúdio, porque é ali o veículo onde o público consome a identidade, fruto e trabalho do artista. Com The Oh Hellos é bem diferente, o som ao vivo da banda é quase uma epifania musical, é ali, no palco, com os ruídos de amplificadores e microfones que vemos toda a trupe agindo em seu mais significativo fruto: explosão apaixonada. (isso pode ser visto, por exemplo,  ao vivo nesse show no Front Row Boston  clique aqui para assistir!).



Acredito que para um artista merecer o título que carrega, precisa, essencialmente de dois ingredientes principais na sua arte: beleza e verdade. Não há como Arte ostentar inicial maiúscula sem a beleza - sim, um conceito relativo, mas que tem pontos em comum a todos que apreciam - e também não há como essa beleza ser transmitida sem o princípio da verdade ou da autenticidade: mais do que viver o que canta, cantar o que já vive, como diz o Tiago Arrais em suas entrevistas: "a vida precede a música". E está aí neste princípio duplo de beleza e verdade que as produções da banda texana de folk se sustenta, em minha opinião.
Os trabalhos em estúdio do grupo não são inferiores ao concertos ao vivo, e acredito que não exista essa dicotomia para The Oh Hellos, sua produção em álbuns é, na verdade, reflexo do que acontece no palco: há paixão, vida e explosão em cada faixa dos discos.A vida existe antes da música e reflete nela. Tive o prazer de ouvir o primeiro disco, o recente álbum Dear Wormwood (2015) e algumas músicas do EP de natal, mas acredito que não há fruto mais bonito da banda até agora do que o esplendoroso Through the deep dark valley (2013) que terei oportunidade de escrever futuramente, mas absolutamente todos carregam esses princípios que defendo para apreciar alguma obra artística. 
Um dia ao conversar com uma prima minha com quem compartilho essas explosões sinestésicas em música descrevi essa banda com essa analogia que adaptei para este espaço:
"É fantástico! É como se eu estivesse me acordando numa floresta fria com raios de sol me aquecendo levemente enquanto inspiro um cheiro de manhã depois de uma longa noite de chuva".

Cheiro de manhã sempre me leva esperança porque é o primeiro sinal de que a noite passou. E talvez seja essa sensação que me faz ser tão apaixonada por The Oh Hellos: a esperança vem pela manhã. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário