Da esquerda para direita: Rafael (guitarrista), Pablo (guitarrista e vocalista) e Diego (baterista) |
Nooma,
um nomem aparentemente incomum, vem do grego pneuma que significa “sopro de vida”. Essa explicação foi feita
pelo guitarrista Rafael, integrante da banda que recebe o mesmo nome, para o
blog Rock for Jesus (você pode conferir aqui essa entrevista). Curiosamente é
essa a sensação que se tem após ouvir o som da banda carioca formada por Pablo
Teixeira (guitarra e vocal), Rafael (Guitarra) e Diego(bateria),
especificamente do primeiro trabalho do trio: “Nooma” (2015), um EP produzido pelo Duda Andrade, contendo cinco
faixas. A sensação de vitalidade e injeção de vida é carregada não apenas nas
letras que versam sobre devoção e adoração, com estruturas essenciais de salmos
modernos, mas também pela atmosfera etérea de post-rock em quase todas as
músicas.
Com
influências claras em timbres de guitarra de bandas como Explosions in the Sky,
Nooma nos apresenta um EP coeso que propõe uma linguagem e lírica de fuga do
que é palpável e físico para um universo de ideal, o metafísico, mas com uma
clara evidência de ainda estar com os pés no chão. É esperança, é alívio, mas
antes de tudo é resgate do céu para a terra, a partir das angústias terrenas.
“Dos
montes”,
inicia
esse pedido de socorro. É a partir da angústia do salmista moderno, que evoca o
salmo 121, que a viagem do ep começa. Apesar dos conflitos internos de não haver
respostas no aqui, os arranjos delicados e a introdução mais ou menos extensa
de calmaria, preparam o ouvinte para a fé de saber que o clamor será ouvido. Da
fé nasce a esperança;da esperança nasce o coração grato, pronto para agradecer
apesar de não ver as respostas concretas. E isso é a adoração expressa nas
estrofes: “eu elevo os meus olhos/ para
os montes/ de onde me virá / o socorro / o meu socorro vem/ do senhor /
aleluia, aleluia” e na bonita certeza que é o ápice da canção em grito e
progressão sonora: “na minha angústia/ eu
clamo ao senhor / e Ele me ouve”.
Capa do EP autointitulado (2015). |
Em
seguida temos a belíssima “Onde estou”, com uma linda e longa
introdução de cordas e violão, seguida de bateria e riffs de guitarras. Aqui a
interpretação e efeitos de reverb na voz de Pablo, encarnam o cerne da música
que é o conflito entre estar e estar. Enquanto enfrenta
os dias maus, a voz lírica, apesar das inconstâncias dos dias, não abala a fé, por
entender que seu relacionamento com Deus não se baseia em circunstâncias, mas
no lugar onde se está, em coração e
alma. Os momentos finais em que a frase “eu
estou em Ti” é repetida diversas vezes, traz não apenas a certeza de que as
coisas terminarão bem, pela companhia dEle, mas a decisão de mesmo em angústia
e inconstância, querer estar nEle.
Geralmente
uma outro é continuação da canção
anterior, e “Outro”, terceira faixa, surge
como essa continuidade de “Onde estou”, mas diferente desta, a canção se contrapõe ao sufoco proposital,
apesar de esperançoso e insere um ambiente de alívio a partir de uma
instrumentação crescente e melodicamente etérea, como se a fé militante da
canção anterior tivesse produzido o estado em que se propunha: a paz de estar em Deus.
Com
marcações de bateria e vocais sobrepostos, juntamente com os riffs oitavados de
guitarras, “Mais alto”, quarta faixa do ep, ao contrário das outras, não
constrói um universo sonoro de fuga esperançosa, mas algo perto do grito de
guerra, por ter como base acordes menores. Apesar disso, liricamente, não há
menção aos momentos difíceis ou a qualquer obstáculo terreno, tudo é centrado
na conversa do ideal, o plano
superior. O caminho percorrido até aqui faz dessa música, a começar pelo
título, um lugar diferente das outras por já estar neste lugar, que não é físico, mas espiritual. Um lugar mais alto. Este
lugar é o da certeza do amor constante e insistente de Deus, que faz com que
todas os outros detalhes sejam dissipados.
Iniciando
com parte da estrofe (“aleluia, aleluia...”) da primeira
música (“Dos montes”), a última música, “Amanheceu”,
instrumental, indica o estado de completa paz espiritual como destino de toda a
jornada construída durante a narrativa do EP. Aqui os singelos acordes e
efeitos reverb de guitarra, juntamente com todo clima causado pelos pratos
sutis do baterista Diego, nos transportam para este lugar de paz nos primeiros minutos
da canção para logo após explodir sonoramente em uma sequência de acordes e
ritmo que remetem a um frenesi de alegria que nasce da esperança: sensação de
que realmente o sol nasceu e a manhã chegou. A canção termina em fade out, indicando que imageticamente
ainda estará soando... Eterna.
O
lugar de paz, que aqui pode-se dizer a eternidade, depois da longa noite que é
viver neste mundo, é a busca, a luta e, por fim, a conquista de toda a jornada
lírica do EP, e é nessa faixa que o nome “Nooma”
ganha contornos grandiosos que respondem a questões centrais: o propósito
da banda e o propósito do EP. Se o sopro de vida do Éden nos formou e fincou no
nosso ser a existência, continuará sendo este fio que nos prende à Eternidade o motivo de nossa existência e a garantia que um dia o alívio, o bálsamo e a
paz espiritual serão pra sempre.
Nota: ***** (ótimo!)
Recomendadas: "Dos montes", "Outro" e "Amanheceu".
Ficha técnica:
Produção: Duda Andrade & Nooma
Mixagem e masterização: Bernardo Fragale
Baterias: Diego Vicente
Guitarras: Rafael Loureiro, Pablo Teixeira
Vocais: Pablo Teixeira
Ouça você mesmo:
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