quarta-feira, 31 de maio de 2017




A música pop dos últimos anos tem muitos motivos para ser sinônimo de prostituição artística. Isso é perceptível quando os comentários negativos acerca de algum novo lançamento gira em torno de frases como "isso tá muito pop" ou "se vendeu ao pop" já que nós internalizamos a ideia de que esse tipo de música é uma tentativa mercadológica de estar relevante e vender mais rapidamente. A ideia da prostituição artística que a maioria tem, nasce da inversão de foco: o que antes era produzido em nome da arte, agora é em busca de dinheiro e holofote para a construção quase mítica que dita comportamento, estilo e modo de agir: o ícone pop. 
É dentro desse universo da iconicidade pop que o astro Harry Styles surge. Vindo de uma boyband (One Direction) que explodiu mundialmente pelas mãos de Simon Cowell e a visibilidade de um reality show musical, o inglês tem todos os requisitos para um popstar: jovem, bonito e carismático. E é apenas isso que importa ao mundo da iconicidade pop: o astro, não o que ele, necessariamente, produz. A música é menor que o ícone. 
Essa visão pragmática vinda da indústria musical pop e que, com razão, não é bem vista por quem defende a música como Arte e, por esta razão, suficiente, foi o que moldou os comentários maliciosos acerca do primeiro disco solo do garoto da terra da Rainha: "pra que dá valor a um menino de boyband que faz música comercial?" era a indagação de quase todos os que não eram fãs da One Direction. 
O mais surpreendente de tudo é que, consciente ou não, Styles surpreendeu a todos: fãs e haters. 



Enquanto que grande parte dos fãs (e todos os haters) esperavam uma típica continuação sonora da banda, o inglês nos entrega um material nostálgico e com raízes no rock clássico sessentista/setentista, rendendo hits que poderiam ser confundidos com alguma música da Rolling Stones. Com isso, cai abaixo o argumento de estratégia mercadológica: o som do álbum autointitulado arrisca com o carisma da base de fãs e se propõe a explorar terrenos do pop-rock oitentista ("Ever since New York"), "rock clássico("Kiwi"), country, blues/bluegrass ("Only Angel") e elementos de balada folk ("From the Dining Table"), tematizando letras que vão de desilusões amorosas até a história poderosa de uma mãe que acabara de dar a luz e morre no parto ("Sign of the times"), mostrando a vulnerabilidade  e exposição criativa do músico.  Toda surpresa gerada e repercutida com esse álbum de estreia nos leva a algumas perguntas: o que acontece quando somos confrontados com o fato de que a música pop, em sua estrutura e áurea mítica, despida do caráter mercadológico a ela empregada nos últimos anos, é na verdade o que embala os melhores momentos de nossas vidas? 
E mais ainda: o que acontece quando nos damos conta de que música de verdade pode vir dos lugares mais inesperados, como por exemplo, de um garoto de boyband descoberto em reality show? 

Harry Styles permanece um ícone pop e sua música é, em essência, popular, mas agora a preocupação não se concentra apenas em com quem ele sai ou qual seu novo corte de cabelo; agora, de verdade, paramos para ouvir o que o garoto de rostinho bonito tem a nos dizer.

NOTA: 4/5 

Ouça você mesmo:




segunda-feira, 22 de maio de 2017



Quem era da geração do emo mainstream do meio dos anos 2000 lembra da Paramore (que inclusive lançaram um disco novo no último dia 12) e toda a sua carga de pop-punk, provavelmente lembra dos irmãos Farro: Josh e Zac. Um era o guitarrista, compositor principal, arranjador e meio que o pai da banda enquanto o outro... Era o baterista (MUITO BOM!) do grupo. 
Acontece que Zac sempre fora o irmão farro ou baterista da banda da menina do cabelo laranja, nunca o mundo tinha tido a oportunidade de saber quem ele era, de fato. 
No entanto isso logo mudou quando em 2010, após uma série de desavenças internas na Paramore, Zac juntamente com seu irmão Josh, até então mais em evidência que ele, saíram da banda. 

Logo após uns anos, Zac Farro, em busca de sua própria identidade, embarcou para Nova Zelândia, onde conheceu novas pessoas, viveu outras experiências e se descobriu como compositor. Lá na Nova Zelândia, com influências de Radiohead e Sigur Rós, Zac produz seu EP auto-intitulado e logo após seu primeiro álbum: Volcano Crowe. É justamente nessa geográfica viagem que, metaforicamente, Zac encontra-se não apenas como um instrumentista, mas como um artista.
Daí em diante Zac assume uma linguagem visual que percorre em todas suas performances, clipes e músicas e essa linguagem visual é percebida em sua própria maneira de se vestir, contribuindo para algumas questões: onde começa e onde termina a performance visual da HalfNoise? 

De doloroso processo de reconstrução de si mesmo, o garoto Farro, até então apenas um ex-paramore (agora tá de volta) não apenas fez de suas rupturas, formas de amadurecer enquanto humano, reconstruindo pontes e desfazendo-se do que não lhe pertencia mais, como também construiu bases sólidas para se tornar um artista com sua própria personalidade. 


DISCOGRAFIA POR ONDEM CRONOLÓGICA:

HALFNOISE (2012)


VOLCANO CROWE (2014)



SUDDEN FEELING (2016)



THE VELVET FACE (2017) 



sexta-feira, 19 de maio de 2017



Não faz muito tempo que tomei a consciência de minha cor e do que isso representa para minha identidade. Na verdade passei anos da minha vida me entendendo como simplesmente parda, mestiça nascida do encontro de um negro com uma branca, mas só recentemente algumas perguntas vieram ecoando à mente: o que é ser parda? O que ser "parda" significa? Na verdade, o que eu sou?

Quando percebi e olhei meus traços, meu cabelo, minha cor... Entendi que não possuo as marcas estruturais dos que "venceram" no mundo, a saber, os brancos. 
Foi doloroso e ainda é sair de um estado de completa indiferença racial para uma consciência de que, sim, sou negra e de que todas as histórias terríveis que escutei sobre o sangue negro ter sido e ainda ser derramado no mundo e nesse país serem histórias sobre mim, sobre minha família, sobre gente que nem eu. 

Nasci em uma família por parte de pai, completamente negra, mas igualmente machucada por esta identidade. Meus avós cresceram ouvindo o quanto eram odiados pela cor da pele, o quanto ser negro significava ser a pior das espécies, o bicho sem alma... Por autoproteção e completa assimilação desse discurso, protegeram seus filhos, netos e bisnetos da completa reconciliação consigo mesmo através da cor. Todos da linhagem da minha família carregam a cor, mas é doloroso, difícil, quase intragável de engolir o que isso representa para suas identidades. Cresci nesse meio. 

Dear White People série original da Netflix levanta questões que mexem profundamente comigo, justamente por tocar nas bases estruturais de minha família e, consequentemente, de minha identidade ainda em construção. 

A série aborda o racismo explícito e velado dentro de uma universidade de maioria branca e como cada pessoa negra resiste, sobrevive e se constrói apesar de viver em um mundo tão hostil. Cada episódio conta a história de uma dessas pessoas com todas as suas camadas de experiência, entrando questões de auto-estima, colorismo, gênero, religião, violência policial e, talvez, principalmente o racismo velado de brancos numa era ilusoriamente "pós-racial". 

Apesar de, em termos de qualidade artística eu ter torcido o nariz e de esse ser um dos motivos pelos quais alguns dizem não ter gostado da série, por que será que mesmo com os mesmos problemas, 13 Reasons Why conseguiu chamar tanto a atenção das pessoas? Por que será que mesmo antes da estreia, o teaser recebeu tantas negativações? Que era "pós-racial" é essa que nos encontramos tão cheia de medo de ouvir sobre o sofrimento real de milhares de pessoas no mundo? 

Talvez você que está lendo não tenha nascido dentro desse universo, não tenha sentido literalmente na pele o que é ser reduzido de sua humanidade, talvez não tenha ideia do que é se sentir feio por não estar dentro do padrão de beleza ou desde criança ter se sentido menos livre que os outros por não poder usar boné em estabelecimentos para não ser "confundido" com um bandido...

Dear White People não é fácil de assistir, não é fácil de assimilar, não é fácil de gostar, sobretudo se quem assiste sente-se embaraçado por se enquadrar nos personagens racistas da série. 

Portanto, abro espaço nesse blog para convidar você, caro amigo preto e, principalmente, caro amigo branco, para se identificar, dolorosamente ou não com esta história. 

quinta-feira, 18 de maio de 2017


Ás vezes a arte é em si mesma ambígua, digo isso porque o modo artístico parece algo que mora numa constante tensão entre querer falar e o medo de se expressar.
Pensando nesse jogo de opostos, somos convidados a entrar no quarto de Rodrigo Teles, ou melhor, Telwa e, por vezes, de maneira constrangida, ouvir seus relatos de exposição e medo por ser ouvido.
“Quarto” possui sete faixas gravadas de forma caseira, o que dá ao EP um selo l0-fi, e faz ainda mais: aprofunda o aspecto de vulnerabilidade emocional e imersão no conceito da obra, que é a de nos fazer entrar no mundo do artista; isso é sentido não apenas pelas letras e arranhões em cordas de violão, mas até nas aparentes fendas abertas como a voz rouca e às vezes sem força, os arranjos violentos de guitarra com acordes quebrando o padrão, ou o som de notificação do celular no meio de uma das canções. Tudo é vulnerável em quarto e, definitivamente, não dá para ouvir sem sentir, de fato, como se estivesse ao lado do músico, ouvindo suas histórias.
Medo, a primeira canção não poderia estar em outro lugar dentro da sequência por apresentar conceitualmente o que estamos prestes a ouvir: o medo de crescer.
Entre sussurros e arranjos de violão, há honestidade em admitir a vontade de entrar no quarto, seu mundo, e ali continuar por não se sentir pertencido em nenhum outro lugar.
O medo do que está lá fora, porém, nasce do que já ocorre dentro, como se percebe ao ouvir “argila”, canção que exprime a analogia entre a argila, pesada e a folha, leve. O que se faz quando se é folha de argila que quer voar, mas sente-se pesado? O medo de sair do quarto é a percepção de que não tem forças para sair.
As imagens construídas ao longo da narrativa do artista nos fazem perceber essa constante busca por ser livre quando se tem medo do que tem lá fora. Ainda nessa linha de pensamento, “Abriu” surge com a metáfora do corpo que só cresce na dor, para obviamente falar sobre aceitar o processo doloroso de amadurecer.
Logo em seguida somos presenteados (sim, PRESENTEADOS) com “Prece” que é, para mim uma das mais bonitas canções do EP, se não a melhor. “Prece” é a canção mais bem construída da obra em todos os aspectos: possui arranjos belíssimos de violão, percussão e de brinde ganhamos um som de chuva como que fazendo parte do universo musical.
“Prece” é um pedido cansado e melancólico de catarse (conceito grego sobre tragédia, em que o objetivo das tragédias eram a de extravasar todas as emoções de forma explosiva), aqui percebe-se a vontade de vomitar todas as dores acumuladas, para enfim se ver livre. Porém, o preço que se paga é o de reviver as dores ao colocá-las para fora.
E por esta razão que a chuva que “desafoga” em “Prece” inicia “Agente junto”, porque aqui há uma confissão banhada por lindos arranjos de violão, do que já se viveu, e reviver é parte de crescer, mesmo que doa.
“Se”, diferente dos arranjos frescos de violão de nylon, inicia com o distorcido de uma guitarra elétrica fazendo acordes dedilhados, versando acerca das tensões de se enxergar em tempos difíceis e acreditar, baseado na fé, que as coisas podem melhorar. A música aos poucos vai crescendo e torna-se grandiosa, quase como um grito. “Se” é desespero por respostas. Catarse pura.
Desse desespero causado pelos medos iniciais somado à poucas luzes de esperança, desaguamos na última  canção do EP, uma das mais incríveis e bonitas da obra toda: “Acordar”.
Diante de toda a narrativa que vai do medo do desconhecido até a conformidade em aceitar as dores como processo de crescimento, nos deparamos com uma aparente disposição de “sair” do quarto existencial do músico. A madrugada passa e o dia avisa novas oportunidades. A vontade é aparente porque, o que se admite é que o lar, o lugar de pertencimento nunca existirá, como explicado nas letras a seguir: “da cama, o parente mais chegado foi o ventre da minha mãe/ às vezes faz pensar/que falta pra sair de lá/ eu vou voltar pra mim/eu vou voltar pra lá”.
Apesar da tensão constante, da vontade de fugir dos lugares em que a alma não comporta, a voz lírica nos confirma em grito de esperança “eu não posso correrr pra sempre”, enquanto a música ganha contornos de grandiosidade com violões em guitarras, que o sol pode estar nascendo dentro dos lugares escuros do quarto do Telwa.

Ao sair do “Quarto”, depois de nos enxergamos como confidentes de questionamentos dolorosos e existenciais de Telwa, percebemos que o que foi expresso em contornos de vulnerabilidade pelo baiano são verdades embaraçadas não apenas por ser de outro alguém, mas por serem muito familiares a nós. Talvez a maior surpresa desse conceito artístico de exposição é que em arte sempre podemos ser lidos. Talvez, por essa razão, ao entramos no quarto de Telwa, tenhamos percebido que também estamos nos nossos.

NOTA:  3,8/5



Confere aí: 

quinta-feira, 11 de maio de 2017




Nos anos 2005-2009 o movimento mainstream do emo explodiu dentro do cenário da música norte-americana  trazendo à tona bandas de som pesado, na maioria das vezes pop-punk com letras de alto teor emocional. Dentre essas bandas, uma se destacou por ter como vocalista uma garota jovem de cabelos coloridos. Rapidamente o que poderia ser apenas uma curiosidade provocada pelo machismo no meio musical, principalmente no segmento do pop-punk, tornou-se um grande sucesso comercial. Começava o sucesso da Paramore. 
Dentre altos e baixos, discussões internas, separações e hits emplacados, o grupo lançou quatro álbuns de sucesso, dentre os quais, o Paramore (2013) conseguiu alcançar o êxito de ganhar um Grammy de melhor música de rock por "Ain't fun" e já mostrava musicalmente um parcial distanciamento do som que fez da banda conhecida. 

Após mais alguns desentendimentos e um quase rompimento total da banda devido a uma crise interna causada pela saída nada amigável do baixista da banda Jeremy Davis, Paramore ressurge das cinzas com uma nova formação, agora com a volta do Zac Farro, membro e co-fundador da banda, trazendo um novo álbum lançado mundialmente hoje, o "After Laughter".

Mesmo para quem escutou o "Paramore" (2013), "After Laughter" causa estranhamento. Enquanto que no álbum auto-intitulado percebemos um momento de transição da banda, momento este em que o pop é mais evidenciado, é em "After Laughter" que a banda abraça o universo pop de vez, deixando de forma quase abrupta o pop-punk que um dia os caracterizou. 

"After Laughter" é, antes de tudo, um álbum que mora nos contrastes. A começar pelo título, que em tradução livre seria "Depois da risada", o álbum se propõe a questionar sobre o que acontece em nosso rosto quando paramos de rir. O que acontece quando nos damos conta que os tempos bons já se foram?



Enquanto que sonoramente há uma aparente alegria causada pelos elementos de funk, pop e indie 80's na maioria das músicas, as letras evidenciam tristeza, ceticismo e desesperança quanto aos relacionamentos e o mundo, influenciados diretamente da depressão que Hayley Williams, vocalista e principal compositora, luta contra. 

"Hard times" abre o disco alegremente com uma sonoridade funk-pop 80's, apesar de contar um aviso de toda a lírica do disco: "crescemos e estamos diante de obstáculos difíceis, o que fazer a não ser aceitar a dor e vivê-la?".
"Rose colored-boy" talvez seja uma das que mais incomodaram as pessoas pela total desconexão sonora com o legado da banda, porque o que ouvimos logo nos segundos iniciais soa quase como alguma canção da Cindy Lauper, o que, particularmente eu adorei (apesar de relutar no começo, admito.). A letra aborda alguém cansado de ser otimista, mesmo que admitindo que gostaria muito de voltar a acreditar num mundo bom. 
"Told you so" seguindo a linha musical das demais: linhas de baixo de funk em evidência e pequenos arranjos de guitarras com reverb, temos a interpretação nas partes altas que podem causar saudades das explosões de raiva em hits como "Ignorance", por exemplo.
"Forgiveness" é uma das grandes canções do disco, na minha opinião. Abordando a dificuldade de perdoar e tendo consciência dessa dificuldade (provavelmente inspirado na confusão que causou a saída de Jeremy, que era um dos melhores amigos de Williams, inclusive), a canção traz uma espécie de balada pop com elementos que causam balanceamento por sintetizadores e guitarras com efeitos reverb (que são características de bandas como The Smiths e The Cure). 
Logo a seguir vem outra grande canção do disco, inclusive preferida de muita gente, "Fake Happy". A canção inicia dando impressão de ser uma balada lenta, mas volta ao pop-rock e pop oitocentista, com elementos (principalmente no baixo) de funk-pop. A letra aborda a facilidade de fingir estar feliz e sorrir para manter a imagem. 
"26" é uma das minhas preferidas por diversas razões: por quebrar com a linha sonora do álbum; por ser uma balada com violões, o que pode lembrar a linda "Misguided Ghosts" do álbum "Brand New Eyes"; por conter arranjos de cordas e lira; por último, por possuir uma letra incrível, abordando sobre o doloroso processo de crescer e se deparar com o fato de que a realidade não é tão boa quanto parece. 

Logo após , temos a incrível"Pool", composição de Williams, York e Zac. O ar juvenil, alegre e que pode soar melodicamente com músicas pop anos 90 ou com o próprio Paramore no começo da carreira, traz uma letra que fala sobre o medo de mergulhar em relacionamentos depois de tantas decepções. 

Enquanto que em Forgiveness há um relato de dificuldade em perdoar, em "Grudges", composição de Williams, York e Farro, os muros são quebrados, o ar passa ser menos denso por mostrar uma reconciliação entre amigos que se perdoaram e querem retomar de onde pararam, apesar de reconhecerem que agora tem de conviver com o fato de que não são mais os mesmos (talvez uma referência à reconciliação ocorrida entre Zac, Taylor e Hayley,):
 "Cause we can't keep holding on to grudges" (porque não se pode continuar guardando rancores).
A faixa é iniciada com sintetizadores e depois abre para um indie delicioso que pode soar como alguma da Phoenix ou com o retrô da Taking Heads.

"Caught in the middle" é uma canção honesta sobre não se enxergar tão jovem, mas ter dificuldades de se encontrar no que chamam de vida adulta. Um pop com bons arranjos de guitarra e contrabaixo, apesar de não ter chamado tanto minha atenção. 

"Idle Worship" tem toques de indie-pop com uma interpretação "raivosa" de Williams (característica que a marcou), com certeza vai ser uma das melhores executadas ao vivo por sua energia. Soa como uma denúncia aos que se decepcionam por esperar de nós algo além do que somos, como a própria letra diz: "Oh, it's  such a long and awful lonely fall/ down from this pedestal that you keep putting me on/What if I fall on my face?/What if I make a mistake?" (Oh, é uma longa e terrível queda solitária/ daqui desse pedestal que você continua me colocando/ E se eu cair de cara?/ E se eu cometer um erro?). 

"No Friend" 
com certeza é a canção mais "difícil" do álbum, é completamente cantada pelo Aaron Weiss, vocalista da banda de rock experimental MewithoutYou e carrega muitas características dessa banda. Apesar de instrumentalmente ser incrível, trazer um aspecto sombrio interessante e possuir uma letra quase apocalíptica parecida com "Idle worship" (pelo que consegui captar), com certeza é a uma das poucas que não gostei por não sentir identificação pessoal e por achar incoerente quanto ao álbum.

Finalizando com chave de ouro, temos uma das melhores músicas do álbum, se não a melhor: "Tell me How". A canção é uma balada triste que continua com a carga emotiva lírica do disco sobre a dificuldade de perdoar, mesmo amando, a vontade de reconstruir pontes demolidas e a consciência do quanto que isso é difícil quando os corações estão cansados de recomeçar. É, definitivamente, uma canção dolorosa. (para quem entende a história da banda, é mais uma canção pessoal que provavelmente fala sobre os sentimentos da vocalista diante do rompimento com seu ex-melhor amigo Jeremy Davis).

"After Laughter" é um álbum que provavelmente trará muitas opiniões divididas quanto à coerência e identidade da Paramore diante de tantas mudanças musicais, internas e pessoais. Talvez a grande proposta seja exatamente a de, honestamente, levantar a questão sobre quem eles são enquanto músicos e fazer dos ouvintes co-participantes dessa redescoberta. 
Ainda dentro do álbum, pessoalmente senti falta de mais peso de guitarras, de mais progressão em algumas músicas e um certo desconforto da própria Hayley Williams diante de uma proposta musical diferente da que sua voz parece ser feita para cantar. É contraditório termos letras tão pesadas sobre o medo de envelhecer, ceticismo quanto às relações humanas, conformidade com a dor ao mesmo tempo em que também temos melodias alegres e arranjos dançantes, mas talvez, ao mesmo tempo o título do álbum seja uma tentativa de resposta a essas questões: o que vem depois do sorriso? Como explicar momentos tão próximos e ao mesmo tão distantes como o sorriso e a nossa expressão "after laufhter" em que percebemos que o tempo de sorrir acabou? 
Sim, "After laughter" vai dividir opiniões, vai causar desconforto nos que ouvem Paramore desde os primórdios, vai ser confundido como uma mistura de referências retrôs, mas também poderá ser visto como uma tentativa ousada e corajosa de se assumir como uma banda de pessoas que ainda estão buscando suas identidades e dentro de todo esse processo, nos convidam para crescermos juntamente com eles, e quando pensamos dessa forma, desde 2005, nos vemos acompanhando essa jornada. 


Destaques: "26", "Fake Happy", "Pool", "Grudges" e "Tell me How".  


Nota: 4/5 

Ouça você mesmo e tire suas conclusões:


sexta-feira, 5 de maio de 2017


Supercombo é dessas novas promessas do rock nacional que, definitivamente, sabem a que vieram e acabam deixando impacto em quem ouve ou assiste às suas apresentações ao vivo. A banda traz em si uma energia jovial e alegre em suas melodias, mas, na verdade, parece se propôr a ser um paradoxo ambulante: a alegria, na verdade é capa sarcástica (beirando ao ácido) para questionamentos profundos sobre a existência e a hipocrisia de nossos tempos.
Em Rogério, nome eufemístico para a figura do Diabo, temos essa mesma acidez envolta de jovialidade para questionar a nossa geração, a hipocrisia, os donos da verdade.
Rogério, que não apenas figura na capa, mas aparece em quase todo o repertório, é construído como o álibi para todos os nossos erros, pois no lugar de nos culparmos pela hipocrisia, pela ânsia de se autoafirmar com verdades vomitadas em comentários de facebook, culpamos o mal, o outro, o antagônico ao bem que representamos... O diabo, Rogério.
Com participações de artistas que representam segmentos diversos na música como Gustavo Bertoni, vocalista da Scalene, Lucas Silveira, da Fresno, Mauro Henrique, da banda Oficina G3, Medulla, Sérgio Britto e até Negra Li, Rogério é um manifesto sarcástico que ridiculariza a figura do dono da verdade, que conhece a todos e a tudo, dentro da cabine superprotetora de seu quarto, frente a uma tela.
Nem é tão importante você gostar de rock,na verdade, basta você participar da geração y, pós-moderna, pós-revolução cibernética para entender cada riff, cada arranjo, cada letra como uma descrição, por vezes constrangedora, do que somos nas nossas tentativas de nos autoafirmar diante de um mundo cada vez mais fragmentado e confuso.
Músicas indicadas: Bonsai, Monstros e grão de areia.

NOTA: 4/5